Grávida, mulher de brasileiro detido ao buscar filha em escola diz que pagou fiança, mas marido segue detido: ‘Não sei quanto mais consigo aguentar’
30/07/2025
(Foto: Reprodução) Rachel e Guilherme nos Estados Unidos
— Fotos: Reprodução/Instagram de Rachel Leidig
Rachael Leidig, mulher do brasileiro detido ao buscar a filha na escola no Estados Unidos, disse que pagou a fiança do marido, mas que ele continua preso. De acordo com uma atualização postada nas redes sociais da jovem que está grávida de sete meses, Guilherme foi transferido do Centro de Detenção em Tacoma para outra unidade em Whatcom, em Washington.
“Meu coração está partido, disseram-me que eu estaria com meu marido esta noite. [...] Este é um pesadelo que continua piorando. Precisamos de toda a ajuda possível agora. Não sei quanto mais consigo aguentar”, escreveu ela sobre o resultado da audiência do marido.
O goiano Guilherme do Lemes Cardoso e Silva, de 35 anos, foi detido em Friday Harbor, Washington, no dia 11 de julho, por agentes do Immigration and Customs Enforcement's (ICE). Segundo o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, o artista visual viveu ilegalmente no país por quase oito anos.
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Nesta terça-feira (30), Guilherme passou por duas audiências, segundo Rachel. Em desabafo nas redes sociais, ela conta que foi com a mãe ao tribunal do Centro de Detenção de Tacoma, onde o marido estava detido.
Segundo ela, o juiz determinou que Guilherme fosse liberado sob fiança, valor que foi pago integralmente pela maquiadora. Entretanto, ela conta que os agentes do ICE continuavam pedindo que elas esperassem e que o marido sairia logo.
“Ninguém nos dava respostas diretas ou uma estimativa de tempo. Esperamos até as 19h, finalmente voltei para o centro de detenção e me disseram que o Gui não estava mais lá, mas que eles não sabiam onde ele estava”, escreveu Rachel.
Rachel diz que soube o que aconteceu quando recebeu uma ligação de Guilherme às 21h. Segundo ela, o marido disse que o ICE o tirou do Centro de Detenção e que outros agentes disseram que ele seria transferido.
“Ele disse que o ICE o tirou do Centro de Detenção e o passou para outros agentes no estacionamento do Costco, que lhe disseram que ele estava sendo levado para uma prisão estadual por algumas alegações falsas que não entendemos completamente”, desabafou.
De acordo com o site da unidade para onde ele foi transferido, no condado de Whatcom, em Washington, Guilherme deu entrada às 20h30 desta terça-feira (29) e seu nome seguia na lista de presos até a última atualização desta reportagem. Ainda segundo Rachel, Guilherme teria uma nova audiência nesta quarta-feira.
O g1 entrou em contato com o Consulado-Geral do Brasil e São Francisco e com o Immigration and Customs Enforcement's (ICE), mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
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Prisão
Guilherme, artista visual especializado em murais de grande escala, estava a caminho da escola da filha, em Friday Harbor, quando foi abordado por agentes do serviço de imigração americano no dia 11 de julho. De acordo com sua esposa, ao menos seis carros participaram da operação.
Guilherme Lemes foi detido por agentes do ICE, nos Estados Unidos
— Fotos: Reprodução/Instagram de Guilherme Lemes Cardoso e Silva
Rachel conta que os agentes não mostraram o mandado para Guilherme, mas que ele foi retirado do carro e detido mesmo assim. Segundo o Consulado-Geral do Brasil em São Francisco, a política imigratória em vigor permite que a detenção ocorra nesses termos.
Em nota ao g1, departamento responsável pelo ICE informou que fez uma operação para prender o brasileiro, que estaria vivendo ilegalmente no país e que o governo está “comprometido em restaurar a integridade do programa de vistos e garantir que ele não seja usado de forma abusiva” (leia a nota na íntegra ao fim do texto).
“Ele entrou nos EUA com um visto que lhe permitia permanecer no país por no máximo 6 meses e ultrapassou o prazo de validade do visto em quase 8 anos”, diz a nota.
Rachel e Guilherme se casaram no início deste ano. Segundo a maquiadora, um formulário I-130, petição que um cidadão americano usa para comprovar o relacionamento com um estrangeiro que deseja solicitar um Green Card, foi preenchido em nome dela.
Ao g1, o consulado brasileiro disse que está em contato com a família de Guilherme e que “monitora o andamento do processo imigratório e as condições de detenção”.
Rachel e Guilherme nos Estados Unidos
— Fotos: Reprodução/Redes sociais de Rachel Leidig e Guilherme Lemes Cardoso e Silva
Tratamento no Centro de Detenção
De acordo com os relatos de Guilherme para a esposa, o goiano teve os pulsos e os pés acorrentados no primeiro alojamento que ficou antes de chegar ao Centro de Detenção, em Tacoma.
No dia 18 de julho, Rachel conta que fez a primeira visita ao marido, quando foi informada de que o celular dele, que deveria ser devolvido com seus pertences, havia sumido. Segundo Guilherme, ele gravava os agentes quando foi detido, mas o aparelho foi arrancado das suas mãos.
“Gui pediu para ver o mandado, mas ela [a agente] disse que não precisava mostrar. Um outro agente tirou o Gui para fora do carro dele e pegou o telefone dele, porque ele estava gravando, e empurrou ele contra o carro para prendê-lo", relatou Rachel.
Durante a visita, Rachel conta que conversou com o artista através de um vidro e que ele contou um pouco sobre como os detentos eram tratados dentro do Centro de Detenção.
Segundo ele, as pessoas detidas não haviam sido alimentadas até às 23h e um deles foi punido, sendo removido da cela onde estava com o primo, por reclamar sobre a comida para um agente. De acordo com ela, Guilherme disse que “é preciso ser submisso aos agentes ou eles punem você”.
Fotos do casal compartilhadas nas redes sociais
— Fotos: Reprodução/Instagram de Rachel Leidig
Sofrimento
Rachel tem dividido a situação da família nas redes sociais e posta relatos quase diários sobre Guilherme. De acordo com ela, precisou parar de trabalhar para fazer pesquisas que possam ajudar o marido em tempo integral.
Além disso, ela diz que se preocupa com o bebê que está esperando e com a enteada, em relação ao impacto que a ausência do pai pode ter nas crianças.
“Estou preocupada com as repercussões e o dano psicológico que isso terá na minha enteada. Estou preocupada com o meu filho, porque sei que ele está sentindo roda a intensidade do meu estresse e ansiedade”, escreveu ela.
Após a frustração vivida com a audiência desta terça-feira, Rachel conta que a família precisará encontrar um novo advogado, já que a nova situação do marido está fora da jurisdição do advogado de imigração do casal, que voou da Califórnia para participar da audiência.
Ela pede “toda ajuda que puder ter” aos amigos e pede que a história do marido continue sendo compartilhada. “O Gui queria que eu dissesse para todos o quanto ele ama e aprecia o suporte de todos. Ele não está no seu melhor estado mental, mas está se mantendo forte”, disse ela em outra publicação.
Nota do Departamento de Segurança Interna
Os fatos aconteceram na manhã de 11 de julho de 2025, o ICE conduziu uma operação policial direcionada para prender Lemes Cardoso E Silva, um imigrante ilegal do Brasil. Ele entrou nos EUA com um visto que lhe permitia permanecer no país por no máximo 6 meses. Ele ultrapassou o prazo do visto em quase 8 anos. O Presidente Trump e a Secretária Noem estão comprometidos em restaurar a integridade do programa de vistos e garantir que ele não seja usado de forma abusiva para permitir que estrangeiros tenham uma passagem permanente só de ida para permanecer nos EUA.
Durante uma abordagem policial, os agentes do ICE se identificaram para Silva e revelaram que tinham um mandado de prisão contra ele devido a violações de imigração. Silva foi preso sem uso de força ou comentários inapropriados. Esse tipo de alegações falsas, que buscam demonizar a aplicação da lei pelo ICE, está contribuindo para um aumento de 830% nas agressões contra agentes do ICE que arriscam suas vidas todos os dias para tornar os Estados Unidos seguros novamente.
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